“... ela tinha os olhos puxados, reflexo típico de sua descendência oriental, e um charme todo particular, no jeito de agir, de falar, de acariciar, de desejar e se mostrar desejada, trazendo à tona a verdadeira face de um sentimento que finalmente se revelava, superlativo, sem similar, resumido em quatro letras que muitas vezes se usara sem se saber o que realmente era, e que perdurou muito e muito tempo, mesmo depois de não mais haver par a lhe corresponder...”
Não
não adianta olhar
Os olhos abertos
apenas instantes de curta duração
até o piscar
os olhos apenas não podem enxergar
Só podem ver
É preciso
mais que tudo
sentir
Rima
sonoro som final
a rima visual
é ponto do cérebro
que escorre por neurônios
a percorrer o corpo todo
Lembrança
falha memória
um dia
um instante agora ignoto
meu olhar te viu
Passas
passos lentos
em rima
movimentos
velocidade baixa para melhor te olhar
Na tela imaginária
do sonho acordado
sua imagem vagueia
cabelos esvoaçam
lentos
antigravitacionais
sem cair
apenas movimento
suave descida do ar onde voam
para aos ombros ficarem
Lá te vais ter
no meu sonho sem sono
Tempo
instante
momento
O ponto é sinal
grafia restrita
marcada em espaço
de curto abrigar
Instante
Num ponto de tempo
um dia
te achei
II
Toque
pequeno contato
de tempo em instante
a estar com você
Dedo
ponta
pele
mão
Na ponta dos dedos
o corpo se entrega
a buscar satisfação
Mão
palma
palma a palma
suas mão pequenas
em número singular
a minha se prende
a sumir-se
oculta
Olho
olhar
a vista agora
não mais representa
um órgão do corpo
Fixo
rijo
paradoxalmente
um olhar franco suave se dá
mostrando a fala
do som inaudível
Corpo
sensação
vontade de estar
gosto
paixão
Amar
é um verbo
de grau superlativo
Pulso
relógio
os dígitos mudam
se trocam em seqüência
mostrando que o tempo
se faz passar
Ah, ilusão!
quem me dera
também fosse exata
a ciência do coração!
Gosto
gostar
o verso tendencia
um cheiro no ar
vontade louca
certeza pouca
puxar uma rima,
em verbo,
amar
Bem me quer
mal me quer
o infinitivo
desprezar
Segregue o advérbio
apague o pronome
a mente reluta
quer ser racional
enquanto no corpo se espalha
impregna
um louco tesão de emocional
Gira, gira
roda gigante no meu pensar
Tonto
sóbrio
a bebida ausente
não impede a mente
de se embriagar
III
Pensamento
confuso
vista baça
vontade louca de te beijar
O dia já é noite
comando
cansaço
um ombro em regaço
cabeça pendente se faz apoiar
Adolescentemente
um riso
no rosto se espalha
dedos alheios se cruzam
de toque
o corpo passa a contato
os dedos
pequenos se fazem
agora é hora
das mãos se juntarem
para aos corpos unir
Quando olho pros teus olhos
me invade uma vontade
louca, insana
de a ti chegar
Qual palavra?
Qual dizer?
Qual o verso a se fazer?
Não
não ainda,
a hora não se faz
IV
Franco
Na palavra
no gesto
no verso
no olhar
Francamente
o corpo se queda
para seu lado oriental
Leve
lento
diminuto movimento
levo meu dedo
para seu rosto tocar
Banco de pedra
sol encoberto
na sombra da árvore
morada se faz
Corpo
corpos
de lado
de frente
os corpos deslizam
em meio a seu sentar
os sons diminuem
os gesto acarinham
os olhos
giram
brilham
movimento constante de quase não piscar
um rosto que avança
um outro que chega
os braços que envolvem
os corpos na dança
os lábios se chegam
se tocam em carícia
vontade tão longa
desejo antigo
de bocas que tinham
de se tocar
Tempo
tempo
o tempo parece
parar de passar,
instante longo
se faz momento
em que perdura
esse beijar
Não há regra
não há nada
o sentimento
é de prazer,
a sensação
é natural
Deixe seu corpo
junto ao meu
num simples ato de abraçar
Nomes
palavras
agora não têm sentido
Não importa o verbo:
a rima
é amar!
V
Sol
luz
brilho intenso
o olhar ferido
franze a se proteger
fazendo espelho
nos teus olhos orientais
Tempo
distância
a mente se encarrega
de burlar o real
em busca de te ter
Um dia
o vento bate forte
e iça a vela
levando o barco para longe do porto
Mera imprevisão
De sol a lua
passa dia
passa noite
ainda é tempo de calmaria
e o amor ancora
meu barco
meu corpo
num porto em Taiwan
30/01/87
Voz Mulher
Há 3 anos