domingo, 26 de abril de 2009

O Czar e o Mandarin

Dizem que deu-se há muito
num tempo pra dantes de outrora
que um dia se encontraram
um czar e um mandarim

Lá pro prados do oriente
que seria o tal duelo
que deixou tão conturbado
um pequeno povoado
situado numa aldeia que chamava Praladelá

Muitas gentes que chegaram
de outras terras mais distantes
para verem seus soberanos
se mostrarem num duelo

Os praladeladeanos,
que era o povo da aldeia,
se fizeram hospitaleiros
para que os muitos povos
que chegaram lá aos montes
se pudessem acolher
para ver o tal duelo

E vieram russianos
E vieram chinesenses
E os praladeladeanos,
que ali sempre estiveram,
todos eles, todos prontos,
esperando o tal dia
do czar e mandarim

Pelos campos se espalharam
ladeando o seu centro
que ali ficou formando
a arena de combate

E chegou o mandarim
todo ele vindo em túnicas
com desenhos de dragões
que cuspiam e cuspiriam
muitos fogos muito ardentes
na cara do czar atrevido

E chegou ali o czar
todo ele vindo em peles
chefiando os camaradas
que com ele ali vieram
pra jogar bolas de neve
na cara do mandarim atrevido

E vibraram as platéias
quando viram a cada canto
pela arena adentrando
os seus grandes manda-chuva

E o russiano vinha frio
todo ele cheio de neve
pois ali na Russogrado
Era neve a todo lado

E o chinesense vinha quente
todo ele douro Sol
pois lá na Chineslândia
eram tempos de verão

E o duelo começou
com urras camaradas
com arroz pro mandarim
pelos prados orientais
das terras de Praladelá

Mas chegou um mensageiro
vindo rápido de Russogrado
e durante o intervalo
que não houve nessa luta
informou a seu czar
que chegara a primavera

E como numa magia
transformou-se numa neve
que cobria o camarada
até que uma flor
terminou por se brotar
no chapéu de pele do czar

Mas chegou um mensageiro
vindo leve de Chineslândia
e durante aquele mesmo intervalo
que não houve nessa luta
informou ao mandarim
que as monções trouxeram chuva

E em mais uma magia
transformou-se aquele Sol
que bronzeava o mandarim
numa chuva torrencial
que molhou as suas vestes
e apagou a chama do dragão

E o povo ali vibrando
dando urras camaradas
e arroz por mandarim

E agora o czar
batalhava com cuidado
pra não ter que machucar
a flor do seu chapéu

E agora o mandarim
batalhava com cuidado
pois não tinha mais
o fogo protetor do seu dragão

Foi então que aterrissou
de um vôo, uma tal ave
que iniciou-se por falar
e interrompeu a luta:

- Venho, disse ela,
avisar a todos vós
que se deram dois levantes
e dois golpes no poder.
Pois agora esse czar
não é mais imperador
e a terra de Russogrado
agora se chama Rússia!

E os camaradas fizeram em coro:

- Ohhhhhhhh!

E continuou a ave:

- Mas também ao outro povo
venho lhes comunicar
que este homem mandarim
não é mais imperador
e a terra de Chineslândia
agora se chama China!

E os arrozeiros também fizeram:

- Ohhhhhhhh!

E a ave foi embora
e os povos dali também
só ficaram ali os dois,
parados,
olhando um ao outro

E as terras se mexeram
foram subindo mais e mais
o czar foi se sumindo
só ficando a sua flor
o mandarim desapareceu
só ficando a sua chuva
e as terras que subiam

Subiram por muito tempo
e ali onde era prado
agora virou montanha
que passava a separar
a Rússia da China

E a aldeia de Praladelá
transformou-se num laguinho
que chamava mandarim,
onde brotava a flor
que chamava czarina,
que ali ficaram juntas
bem no pico de um dos montes
lá do alto do Himalaia

14/11/80

terça-feira, 21 de abril de 2009

Poema Adolescente

Ato
recato
instante, hiato
o amor se faz fato
no corpo da menina
deixando-a mulher

Mas no rosto
seu riso ainda era de menina



24/01/89

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ilha

O teu corpo
é uma ilha
de contornos
formas curvas
onde os lábios
chegam em beijos
que se quebram como ondas

de carícia e tesão

1988


Estarei viajando nesse feriado, não sei se haverá internet
no hotel. Mas na volta eu respondo aos coments e volto a
visitar os blogs preferidos ...

domingo, 12 de abril de 2009

Poema sem medo

Não há cicatriz ou medo
que o pretérito instalou
nas paredes do meu pulsar
Capazes de fechar
portas e janelas,
De vedar as frestas
por onde sua luz quer penetrar,
Sua palavra densa
A presença intensa
Que mesmo a distância
não consegue desfazer,
A provocar inquietudes
Reverberando os hormônios
Deliciosa ebulição
de prazer e calafrio,
Desejo de beijo
suor e arrepio
A liberar a mente,
Se tornar inconseqüente
E me entregar ao teu corpo,
A tua pele quente,

Traduzida em minhas mãos

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Toque

O toque
do tato
no tato
dos dedos nos braços
a pele na pele
do dorso das mãos
nas faces do rosto
sorriso de gosto
do gesto em carinho
suave agradar

Desejo
desejo
reduza seu corpo
ao pequeno frasco
de um arrepio de prazer

Pra que o plural
no querer do buquê
se o perfume também se exprime

num simples botão de flor?




Boa páscoa e muito totolate pra todo mundo, que toto
tale é bom demais !!
O tempo anda apertado, mais pouco a pouco, eu vou visitando todo mundo, tá?
Bjks às beijáveis e abraços aos abraçáveis ...

domingo, 5 de abril de 2009

Poema de Outono

O vento passa e bate
a desnudar o corpo
do poema de outono

A literatura perde a forma
cai e estilhaça
em versos desordenados

Um dia
alguém chega e varre
tanta gramática
para um canto sujo qualquer,
fazendo brotar
numa manhã de primavera
uma flor no meio do lixo

24/01/89

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Beijos

Trecho de uma carta, escrita há um bom par de anos atrás ...


Beijos devem ser expressivos, vorazes e dar a sensação de volúpia, de desejo, de invasão de privacidade e de entrada no seu mundo sem pedir muita licença, como um olhar incisivo que mexe contigo até o fundo do seu sentimento, um olhar forte, penetrante, que fala fundo no seu sentir, que te abala sem machucar, que te faz lembrar dele a cada instante. Um beijo deve devorar a pessoa que se deseja, molhado, atrevido, deve provocar desejo de ser prolongado, deve fazer as mãos não quererem parar de acariciar, de envolverem e de transgredirem, deve deixar a cabeça tonta para ficar naquela dúvida cruel em liberar o desejo de ter sua intimidade quebrada, num gesto ousado a tocar o corpo em todas as suas formas.
Um beijo deve deixar marcas, tornar-se inesquecível, pleno, cheio, poderoso, deve arrepiar e trazer o desejo de querer mais, mais um, mais outro, mais todos que puderem vir.
Beijos devem ser o prenúncio do amor, de fazer amor, de elevar a tensão, de aumentar o tesão, devem incitar mesmo que tudo não passe de um simples e caloroso beijo.
Assim deve-se beijar, demonstrar no toque sensível dos lábios, no toque excitante das línguas, no mordiscar matreiro dos dentes toda a intensidade que o gostar de alguém pode exprimir.