Dizem que deu-se há muito
num tempo pra dantes de outrora
que um dia se encontraram
um czar e um mandarim
Lá pro prados do oriente
que seria o tal duelo
que deixou tão conturbado
um pequeno povoado
situado numa aldeia que chamava Praladelá
Muitas gentes que chegaram
de outras terras mais distantes
para verem seus soberanos
se mostrarem num duelo
Os praladeladeanos,
que era o povo da aldeia,
se fizeram hospitaleiros
para que os muitos povos
que chegaram lá aos montes
se pudessem acolher
para ver o tal duelo
E vieram russianos
E vieram chinesenses
E os praladeladeanos,
que ali sempre estiveram,
todos eles, todos prontos,
esperando o tal dia
do czar e mandarim
Pelos campos se espalharam
ladeando o seu centro
que ali ficou formando
a arena de combate
E chegou o mandarim
todo ele vindo em túnicas
com desenhos de dragões
que cuspiam e cuspiriam
muitos fogos muito ardentes
na cara do czar atrevido
E chegou ali o czar
todo ele vindo em peles
chefiando os camaradas
que com ele ali vieram
pra jogar bolas de neve
na cara do mandarim atrevido
E vibraram as platéias
quando viram a cada canto
pela arena adentrando
os seus grandes manda-chuva
E o russiano vinha frio
todo ele cheio de neve
pois ali na Russogrado
Era neve a todo lado
E o chinesense vinha quente
todo ele douro Sol
pois lá na Chineslândia
eram tempos de verão
E o duelo começou
com urras camaradas
com arroz pro mandarim
pelos prados orientais
das terras de Praladelá
Mas chegou um mensageiro
vindo rápido de Russogrado
e durante o intervalo
que não houve nessa luta
informou a seu czar
que chegara a primavera
E como numa magia
transformou-se numa neve
que cobria o camarada
até que uma flor
terminou por se brotar
no chapéu de pele do czar
Mas chegou um mensageiro
vindo leve de Chineslândia
e durante aquele mesmo intervalo
que não houve nessa luta
informou ao mandarim
que as monções trouxeram chuva
E em mais uma magia
transformou-se aquele Sol
que bronzeava o mandarim
numa chuva torrencial
que molhou as suas vestes
e apagou a chama do dragão
E o povo ali vibrando
dando urras camaradas
e arroz por mandarim
E agora o czar
batalhava com cuidado
pra não ter que machucar
a flor do seu chapéu
E agora o mandarim
batalhava com cuidado
pois não tinha mais
o fogo protetor do seu dragão
Foi então que aterrissou
de um vôo, uma tal ave
que iniciou-se por falar
e interrompeu a luta:
- Venho, disse ela,
avisar a todos vós
que se deram dois levantes
e dois golpes no poder.
Pois agora esse czar
não é mais imperador
e a terra de Russogrado
agora se chama Rússia!
E os camaradas fizeram em coro:
- Ohhhhhhhh!
E continuou a ave:
- Mas também ao outro povo
venho lhes comunicar
que este homem mandarim
não é mais imperador
e a terra de Chineslândia
agora se chama China!
E os arrozeiros também fizeram:
- Ohhhhhhhh!
E a ave foi embora
e os povos dali também
só ficaram ali os dois,
parados,
olhando um ao outro
E as terras se mexeram
foram subindo mais e mais
o czar foi se sumindo
só ficando a sua flor
o mandarim desapareceu
só ficando a sua chuva
e as terras que subiam
Subiram por muito tempo
e ali onde era prado
agora virou montanha
que passava a separar
a Rússia da China
E a aldeia de Praladelá
transformou-se num laguinho
que chamava mandarim,
onde brotava a flor
que chamava czarina,
que ali ficaram juntas
bem no pico de um dos montes
lá do alto do Himalaia
14/11/80
Voz Mulher
Há 3 anos