sábado, 31 de janeiro de 2009

Taiwan

“... ela tinha os olhos puxados, reflexo típico de sua descendência oriental, e um charme todo particular, no jeito de agir, de falar, de acariciar, de desejar e se mostrar desejada, trazendo à tona a verdadeira face de um sentimento que finalmente se revelava, superlativo, sem similar, resumido em quatro letras que muitas vezes se usara sem se saber o que realmente era, e que perdurou muito e muito tempo, mesmo depois de não mais haver par a lhe corresponder...”


Não
não adianta olhar

Os olhos abertos
apenas instantes de curta duração
até o piscar
os olhos apenas não podem enxergar

Só podem ver

É preciso
mais que tudo
sentir

Rima
sonoro som final
a rima visual
é ponto do cérebro
que escorre por neurônios
a percorrer o corpo todo

Lembrança
falha memória
um dia
um instante agora ignoto
meu olhar te viu

Passas
passos lentos
em rima
movimentos
velocidade baixa para melhor te olhar

Na tela imaginária
do sonho acordado
sua imagem vagueia
cabelos esvoaçam
lentos
antigravitacionais
sem cair
apenas movimento
suave descida do ar onde voam
para aos ombros ficarem

Lá te vais ter
no meu sonho sem sono

Tempo
instante
momento

O ponto é sinal
grafia restrita
marcada em espaço
de curto abrigar

Instante

Num ponto de tempo
um dia
te achei


II


Toque
pequeno contato
de tempo em instante
a estar com você

Dedo
ponta
pele
mão

Na ponta dos dedos
o corpo se entrega
a buscar satisfação

Mão
palma
palma a palma
suas mão pequenas
em número singular
a minha se prende
a sumir-se
oculta

Olho
olhar
a vista agora
não mais representa
um órgão do corpo

Fixo
rijo
paradoxalmente
um olhar franco suave se dá
mostrando a fala
do som inaudível

Corpo
sensação
vontade de estar
gosto
paixão

Amar
é um verbo
de grau superlativo

Pulso
relógio
os dígitos mudam
se trocam em seqüência
mostrando que o tempo
se faz passar

Ah, ilusão!
quem me dera
também fosse exata
a ciência do coração!

Gosto
gostar
o verso tendencia
um cheiro no ar
vontade louca
certeza pouca
puxar uma rima,
em verbo,
amar

Bem me quer
mal me quer
o infinitivo
desprezar
Segregue o advérbio
apague o pronome
a mente reluta
quer ser racional
enquanto no corpo se espalha
impregna
um louco tesão de emocional

Gira, gira
roda gigante no meu pensar

Tonto
sóbrio
a bebida ausente
não impede a mente
de se embriagar


III


Pensamento
confuso
vista baça
vontade louca de te beijar

O dia já é noite
comando
cansaço
um ombro em regaço
cabeça pendente se faz apoiar

Adolescentemente
um riso
no rosto se espalha
dedos alheios se cruzam
de toque
o corpo passa a contato
os dedos
pequenos se fazem
agora é hora
das mãos se juntarem
para aos corpos unir

Quando olho pros teus olhos
me invade uma vontade
louca, insana
de a ti chegar

Qual palavra?
Qual dizer?
Qual o verso a se fazer?

Não
não ainda,
a hora não se faz


IV


Franco

Na palavra
no gesto
no verso
no olhar

Francamente
o corpo se queda
para seu lado oriental

Leve
lento
diminuto movimento
levo meu dedo
para seu rosto tocar

Banco de pedra
sol encoberto
na sombra da árvore
morada se faz

Corpo
corpos
de lado
de frente
os corpos deslizam
em meio a seu sentar
os sons diminuem
os gesto acarinham
os olhos
giram
brilham
movimento constante de quase não piscar
um rosto que avança
um outro que chega
os braços que envolvem
os corpos na dança
os lábios se chegam
se tocam em carícia
vontade tão longa
desejo antigo
de bocas que tinham
de se tocar

Tempo
tempo
o tempo parece
parar de passar,
instante longo
se faz momento
em que perdura
esse beijar

Não há regra
não há nada
o sentimento
é de prazer,
a sensação
é natural

Deixe seu corpo
junto ao meu
num simples ato de abraçar

Nomes
palavras
agora não têm sentido

Não importa o verbo:
a rima
é amar!


V


Sol
luz
brilho intenso
o olhar ferido
franze a se proteger
fazendo espelho
nos teus olhos orientais


Tempo
distância
a mente se encarrega
de burlar o real
em busca de te ter

Um dia
o vento bate forte
e iça a vela
levando o barco para longe do porto

Mera imprevisão

De sol a lua
passa dia
passa noite
ainda é tempo de calmaria
e o amor ancora
meu barco
meu corpo
num porto em Taiwan

30/01/87

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Chuva - última parte

- Lembra quando a gente se conheceu?
- Lembro. – respondeu em tom baixo.
- Eu não acreditei em uma palavra do que você disse.
- Eu sei.
- E você me convidou para ver uma apresentação da sua banda ...
- E você riu da minha cara ...
- E eu fui só pra acabar com a tua pose de mentiroso ...
- E ficou até o fim do show ...
- E jurei que não ia sair dali junto contigo ....
- E acabou casada comigo por cinco anos.
Laura sorriu. Por que se separam mesmo? Era tão bom estar ao lado dele, tão seguro, tão aconchegante! O que uma mulher profissionalmente realizada poderia desejar mais do que aquilo: um companheiro carinhoso, romântico, que não ligava a mínima pro quanto ela ganhava ou deixava de ganhar, que não competia com ela e ainda a apoiava a subir mais e mais na carreira. Conhecedor de perfumes, vinhos e flores. E uma sintonia total com ela na hora de fazer amor. Então, por que raios se separaram?
- E cinco anos muito bons ... – continuou Carlo.
O trânsito começava a complicar, os primeiros pingos começavam a cair.
- Você ainda tem aquele apartamento de frente para a Lagoa?
- Hum hum.
- Está morando por aqui?
- De vez em quando. Depende da agenda.
- Está me levando para lá?
- Hum hum.
Laura voltou a olhar para fora. Sentiu na pele do braço o toque das mãos dele. “Câmbio automático tem lá suas vantagens!” - pensou. Já tinha se recriminado em outros encontros, jurava que não cederia mais. Um dia, Ana lhe repreendeu e exigiu que ela se desse mais valor. “Como, ceder? Você não faz porque deseja? Ficou boba depois de velha?”. A amiga tinha razão. Era adulta, dona do seu nariz e, principalmente, maior de idade. Bem maior.
Voltou a se questionar: “Por que tinha acabado?” Tentou forçar a memória, lembrar de possíveis atritos, desgastes. Nada, não se lembrava de coisas do gênero. Forçou mais um pouquinho, arregalou as sobrancelhas, balançou a cabeça como que concordando consigo mesma. “A maldita introspecção dele!”.
De tempos em tempos, Carlo se fechava num seu mundo particular e nada o tirava dali. Poderiam ser dias, às vezes semanas, teve uma vez que durou mais de dois meses. Laura acabou cansando daquelas crises de viagem ao interior da própria mente e, após muito relutar, pediu a separação. Carlo ficou inerte, na sua eterna serenidade. Gostava dela, e muito. Mas nunca conseguira dominar seu próprio jeito de ser. Lamentou, mas não insistiu. Como era de seu costume: sem jamais se mexer para alterar o rumo das coisas.
Estacionaram o carro, subiram até o apartamento. A decoração continuava a mesma: poucos móveis, instrumentos musicais no canto da sala.
Pegou o controle, ligou o som, convidou-a para dançar. Laura aceitou o convite, sentiu os braços fortes lhe envolverem a cintura, aquele olhar “tão denso”, o rosto eternamente sereno. Ficaram ali, abraçados, parados, em pé, enquanto a música lenta se espalhava pelo ambiente todo. Carlo soltou o braço direito da cintura dela, levou sua mão até a cabeça, penetrou delicadamente com os dedos por entre seus fios de cabelo. Laura fechou os olhos, sorriu:
- Seu bandido covarde! Só porque eu adoro quando você faz assim comigo!
Carlo se aproximou de seu rosto, tocou-lhe os lábios, num beijo rápido e provocante.
- Você gosta de judiar de mim, não é, seu safado?
Laura puxou-o para junto de si, devorou-lhe a boca em um beijo ardente, afastou-se um pouco, ficou ali, parada, olhando para ele.
- Você continua lindo, sabia? – enquanto acariciava seu rosto.
- Vou acabar acreditando ...
- Deixa de ser bobo, já deve estar enjoado de saber que faz sucesso com as mulheres!
- A profissão ajuda.
- !?
- Tem muita gente que idolatra certos ... personagens.
- Personagem?
- Não precisa ser o verdadeiro ídolo para ser idolatrado.
Laura ficou pensativa por instantes.
- E o palco tem um quê de magia que mexe com muitas pessoas, tanto as de cima dele, como as da frente.
A chuva apertara, fazendo aquele barulhinho gostoso na janela.
- Você programou a chuva só para fazer amor comigo, não foi?
- Eu não programei fazer amor com você!
- E me trouxe aqui para que, então?
- Porque é onde eu moro quando estou por essas bandas!
- Sem segundas intenções?
- Minhas intenções costumam ser primeiras, você sabe disso.
Laura esfriou um pouco. Ficou brava consigo mesma. Havia esquecido de uma regra básica num encontro amoroso: falar demais pode quebrar o encanto. Afastou-se dele, caminhou lentamente, poucos passos, sentou-se numa poltrona. Carlo percebeu o que se passara, ficou indeciso por instantes. Achou que falara demais.
- Sempre gostei de chuva. Deve ser o sangue paulistano! – riu.
Ele permaneceu calado. Desabotoou alguns dos botões, expôs parte do peito bem definido, resultado da preparação física necessária para quem costumava dar seus shows país afora. Caminhou lentamente até ela, ajoelhou-se, apoiando-se em suas pernas. Seus rostos ficaram próximos novamente. Fez menção de falar, corrigiu-se a tempo. Trocou a fala por uma carícia, duas, um beijo, outra carícia. Preferiu falar com o olhar o que ainda sentia por ela.
Laura entregou-se de vez. Tentou desviar a atenção dos conflitos internos que lhe gritavam pela mente. “Que mal há em se entregar para quem se gosta?” - pensava. “Tantas regras, tantas punições, tanta gente deixando de fazer o que quer só para não sair da linha do trem! Aos diabos com a moral e os bons comportamentos!”.Chovia forte agora. Laura largou seus pudores em algum canto da sala, enroscou-se corpo a corpo com aquele homem que tanto prazer lhe proporcionava. Arrancou-lhe a camisa, beijou-lhe o corpo, fulminou seus olhos com um olhar cheio de tesão e desejo, de ser tocada, de ser amada, de sentir todo o prazer que só aquele ser conseguia lhe proporcionar. Triturou seus pensamentos, deixou apenas os instintos virem à tona. Queria uma chuva de beijos, de carícias atrevidas, de toques provocantes, sentir a mistura dos odores dos corpos que se amavam com o perfume da chuva lá de fora. E só parar quando ela fosse embora!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Chuva - 2ª parte

- Carro novo?
- Mais ou menos. Já faz um certo tempo que eu comprei. Gosta?
- Quem não gostaria de um carro como esse?
- Fico contente que te agrada.
Ela olhou pela janela, o tempo se fechando, parecia que a chuva estava chegando. Tinha ouvido no rádio a previsão: o tempo iria mudar antes do final do dia. Olhou no relógio: três e meia.
Já ligara para Ana e pedira mil desculpas pela grosseria de abandoná-la no meio do almoço sem maiores explicações e com toda aquela indelicadeza. Recebeu uma bronca pelo celular, seguida de um "boa sorte" no encontro. Desculpou-se novamente e mais outra ainda na hora de desligar. Ana já estava acostumada com aquilo. Não fora a primeira vez e provavelmente não seria a última. Pelo menos enquanto o feitiço não acabasse.
Laura era uma mulher forte, ocupava um cargo de destaque numa empresa multinacional do ramo de cosméticos, admirada profissionalmente e dona de um charme capaz de arrasar quarteirão. Corpo esguio, alta, sempre elegante, um rosto de traços limpos e bonitos, influência da descendência mestiça, o pai brasileiro e a mãe chinesa. Fazia sucesso por onde passava e, diziam, poderia ter o homem que quisesse a seus pés, sem muito esforço.
Sofrera algumas desilusões com os seres do sexo oposto. A combinação de beleza e independência, o salário alto, as posições sempre firmes, tudo isso tinha seu preço: intimidava a grande maioria dos homens que estiveram a seu lado. Ana era a amiga inseparável, braço direito na empresa, colegas de escola, amizade longínqua e duradoura. Uma mulher simples e determinada, um leão na defesa dos amigos, mas totalmente sem vontade na hora de ir atrás de qualquer coisa para si mesma. Quando a dama de ferro se desarmava e precisava de colo, Ana era o porto seguro de muitas lágrimas e confissões. Laura tomou-a como a irmã que não pode ter, perda da qual nunca se refizera totalmente: três aninhos e uma doença fulminante! Adotou Ana assim que a conheceu na escola. E nunca mais a largou.
- Pensativa!
Laura voltou-se para dentro do carro.
- O que você disse?
- Que estás pensativa hoje!
Ela não respondeu. Voltou seu olhar para fora, acompanhando a paisagem. Adorava ver o mar! Sabia que ele escolhera aquele caminho porque ela gostava de olhar para o oceano, mesmo com o dia se enfeiando a cada minuto que passava. Poderia ter escolhido o túnel, mas preferiu o caminho a beira-mar, contornando a encosta de São Conrado.
Há quanto tempo não o via? Três, quatro anos? Será que era tanto assim? Forçou um pouco a memória, terminou por lembrar: tinham se encontrado rapidamente no aeroporto, ponte aérea, ela indo para São Paulo a negócios e aproveitando para visitar a família. Morava no Rio agora por causa do trabalho. Ele, chegando ao Rio para participar de um festival. Mal tiveram tempo de se falar, apenas um convite para um café e um beijo de despedida.
Conheceu Carlo numa happy hour no centro da cidade, quando ainda morava na capital paulistana. Iam em direção oposta, casa lotada, tentaram passar ao mesmo tempo por onde só havia espaço para uma pessoa. Enroscaram-se ali, riram da situação, acabaram ficando de pé, por mais de uma hora, conversando. Ele com o copo vazio e ela sem conseguir esvaziar o seu. Balançou logo que o viu, não conseguiu sequer disfarçar. Ficou mais perdida ainda por não estar acostumada com aquela situação. Afinal, normalmente era o representante masculino quem costumava perder o rebolado diante dela. Encontrou seu algoz, ali, de pé, no meio de um barzinho lotado no centro de Sampa. E se entregou, sem muita resistência.
Não acreditou em uma palavra do que ele dissera sobre o seu trabalho. Jamais um sujeito com cabelo curto, bem cortado, barba perfeita e aquele jeito sereno poderia ser o que ele dizia: cantor de rock! Quando lhe disse que era vocalista e tinha uma banda que costumava fazer cover do Whitesnake, ela não se conteve: “E você usa peruca para ficar mais parecido com o Coverdale?”.

continua no primeiro minuto da quinta, dia 29/01

domingo, 25 de janeiro de 2009

Chuva

Este conto foi escrito pouco após o lançamento do livro de contos e crônicas, Flagra, em 2003. Como o seu tamanho não é muito pequeno, resolvi dividi-lo em partes, para a leitura não ficar muito pesada, sendo a primeira postagem hoje, a outra na quarta e o final para sábado, provavelmente. Espero que gostem ...

Monday

1ª Parte

- Naquela mesa ali. Discretamente.
O garçom atendeu seu pedido e levou o “bilhete” até a mesa indicada. Laura e Ana conversavam prazerosamente, sem se preocuparem muito com o tempo que passava e, com ele, a comida que esfriava. Na realidade, mal tinham provado o conteúdo de seus pratos.
Ele chegou discretamente, como lhe solicitara o remetente, e entregou o bilhete a Laura. Ana olhou para o garçom, para o bilhete e, finalmente, para a amiga. A curiosidade transbordava por seus olhos pequenos. Laura ficou parada por instantes, sem saber se aceitava ou não o guardanapo de pano que virara pergaminho.
- Eu já vi torpedo em barzinho, mas isto é totalmente inusitado pra mim! – rindo levemente.
- E o que diz aí? – replicou Ana, quase que levantando da sua cadeira para poder ver de perto o que estava grafado no pedaço de pano.
- Posso saber quem foi o autor da brincadeira?
O garçom se esquivou, dizendo apenas que lhe pediram para entregar, discretamente. Sem que revelasse o autor.
- E que tal se eu chamasse o gerente da casa e dissesse a ele que o seu funcionário está perturbando o meu almoço e o de minha amiga, com uma brincadeira de extremo mau gosto? – ameaçou.
- Se a senhora deseja, posso chamar o gerente.
Laura franziu a testa, um pouco desapontada. Ameaças daquele tipo sempre davam certo, mas desta vez falhara.
- E o meu admirador secreto não pretende se revelar?
- Ele apenas me pediu para lhe entregar o “bilhete”. – contendo o riso.
Laura percebeu que não conseguiria muito com o rapaz e que, no fundo, ele estava apenas acatando um pedido de outro cliente. Não achou justo destilar seu desapontamento em cima de alguém que provavelmente não estava nem um pouco confortável fazendo o que fazia.
- Típico de homens. Ou vêm com tudo, ou se escondem. Odeio isso!
- Vai ler ou não vai? – cortou Ana, totalmente inquieta.
- Não sei ... – enquanto segurava o guardanapo pela ponta, olhando com cara de desprezo.
- Não me mate de curiosidade, sua bandida! Leia logo o que está escrito!
Laura continuava a olhar para aquilo, seguro pela ponta, pendente, quase caindo. Por fim, terminou se rendendo a sua própria curiosidade e ajeitou-o em cima da mesa. Aproximou o rosto para tentar decifrar o pouco que a tinta havia conseguido grafar, em formas totalmente garranchadas, naquele pedaço de pano. Voltou-se de repente para trás.
- O que foi? – perguntou Ana, assustada.
Laura permaneceu em silêncio, olhar fixo em direção à mesa.
- O que é que você leu, criatura? – insistiu a amiga.
Nenhum movimento.
- Fala logo alguma coisa que eu já não agüento mais esse suspense todo, mulher de Deus! – em tom alto, chamando a atenção das mesas ao lado.
Ana percebeu a gafe e se retraiu, sem jeito. Laura levou o pano até perto do rosto, fechou os olhos, aspirou levemente o ar e sorriu suavemente, com uma expressão gostosa no rosto.
- Saint Laurent!
- Quem? – arguiu Ana.
- Só poderia ser ele.
- Ele quem? – suplicou Ana, já desesperada por não saber do que se tratava.
- Ele sabia que eu iria reconhecer o perfume. Por isso não escreveu nada legível. Que bandido!
- Não, chega! Vamos parar com isso! Alguém aí coloque as legendas que eu estou boiando há tempos. Nem que seja por piedade dessa alma curiosa, mas diga, pelo amor de Deus, do que você está falando, Laura?
Laura olhou para Ana com desdém. Levantou-se, virou-se para o garçom, que ali permanecera, pediu para que lhe indicasse onde estava. O rapaz pediu para que a acompanhasse até o outro salão.
- Você não vai fazer isso comigo, Laura! Pode até me abandonar sozinha na mesa, mas não me contar quem foi que te mandou o ... , o ... , isso daí que tá na sua mão, ah, isso é muita sujeira!
- Ana, sossega e come, antes que esfrie.
- Laura!
Era tarde. Ela seguiu atrás do rapaz, deixando a companheira com cara de tacho no meio do salão. Ana olhou para todos a sua volta, que a observavam, sem exceção, sentou-se lentamente, arrumou sua cadeira e se encolheu o mais que pode, querendo se esconder dentro de si mesma. Um garçom aproximou-se:
- Bebida?
- Whisky, duplo, cowboy! E rápido.

- - -

Ele estava sentado em uma mesa para duas pessoas, junto à janela, encostado na parede. Pernas cruzadas, os cabelos desgrenhados, como sempre, jogados para trás, testa limpa, o olhar profundo e denso, os lábios grossos, levemente puxados num esboço de sorriso. Camisa de manga longa, abotoada até pouco abaixo do pescoço, barba feita, impecável como sempre. Só poderia ser ele:
- Carlo!
Ele levantou e abaixou rapidamente as sobrancelhas, intensificou o sorriso, mas permaneceu sentado.
- Olá, Laura.

continua no primeiro minuto da próxima quarta, dia 28/01

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fresta

Faça
do corpo
poesia
e num toque de magia
faça os versos serem membros
e em suaves movimentos
se aproxime do meu ser
e o envolva na grafia
de inexistente rima,
transformando estes momentos
numa estrofe de amor

Quando
o sereno e a madrugada
deixam a relva orvalhada
como se fosse suor
faz-se,
no poema,
analogia,
e o verso
em sua grafia
narra o ventre como flor

Toque
na minha pele
a mão macia
que o contato
propicia
o crescer da sensação

E ouça
com seus olhos de menina
o perfume do poema
que se espalha pelo quarto
quando a luz quebra a penumbra
pela fresta da janela

a anunciar o dia

19/03/91

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Poema Simples

O ser, em verbo
se verbaliza no plural

Não é,
são!

Gestos
frases
um leve afago
que da ponta dos dedos
lhe toca a pele
para se transmitir
em leve tatear

No rosto, de pele macia
nas mãos, por entre dedos
um ou outro carinho
que a ti dirijo

Como um ou outro poema

Pelo simples prazer

de te ver sorrir!

27/06/84

sábado, 17 de janeiro de 2009

Lingerie

Num pedaço isolado
de um canto do mundo
o desejo que aflora em ares de amor
envolve minhas mãos,
que tocam teu corpo
sua pele morena
pra transformar-se em carinho
e invadir sua intimidade
protegida em branco
pelos desenhos em renda

de sua lingerie

13/09/90

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Poema Real

Pobre do nobre
que se escora na pose
sem saber que o abstrato
não traz no corpo
a arte da sustentação

A realeza
nunca esteve na coroa,

mas sim na alma!


19/10/90

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uma tarde

Na tarde parada
de nuvens esparsas
e tempo lento
não havia no ar
nada mais que um pensamento

No olhar parado
de vista esparsa
não havia nada mais
que um mero enxergar

No virar repentino
na mudança de olhar
surgiu um rosto
um riso, um flerte

Na tarde calada
de tempo seco
num toque em carinho
seus lábios vieram
tocar minha boca
matando minha sede
de ter seu amor


10/09/84

sábado, 10 de janeiro de 2009

Meme da Des

Ganhei de presente da minha maluquete querida incrustada no Piauí, a Des (Desequilibrada, no oficial).

Vou fazer uma mistura desse com o 101, tá, moça? Coisa de menino desobediente. Regras oficiais aí abaixo, para quem for seguir após ser indicada:

Colocar o link de quem te indicou para o meme.
Escrever estas 5 regras antes do seu meme pra deixar a brincadeira mais clara.
Contar os 6 fatos aleatórios sobre você.
Indicar 6 blogueiros pra continuar o meme.
Avisar para esses blogueiros que eles foram indicados

blogueiros para continuar:

Sunflower http://sunflowerrecords.blogspot.com/
Branca http://xxsentimento.blogspot.com/
Gabrielle http://magnifique-gabrielle.blogspot.com/
Flá Costa http://dentrodelatem.blogspot.com/
Melissa (Cintaliga) http://cintaligasampa.blogspot.com/
Moni http://pensamentosemcores.blogspot.com/
Camila :) http://inventandobatidas.blogspot.com/
Gabriela M. http://miss-umbrella.blogspot.com/
Bandy's http://esconderijodabandys.blogspot.com/
Polly http://pollyfonica.blogspot.com/

Sinto muito, Des, mas não dá pra indicar menos de 10... fora a vontade de indicar mais... rssss


- Comecei a escrever aos 14 anos
- Poesia, aos 16
- Dos 14 aos 16, foram 4 romances
- Acho que eu fiquei velho: não consigo mais ler esses 4 romances... rsss
- 1 livro de crônicas publicado: Flagra, em 2003
- 1 livro de poesias não publicado (estão sendo publicadas neste blog e no Ménage à quattre), aos poucos
- 2 romances não publicados
- Absolutamente apaixonado por mulheres
- Inquieto e observador, até demais...
- Não me importa a sua opção sexual, mas eu só gosto de mulheres...
- Não me importa a opção sexual das mulheres que eu gosto: eu gosto delas como elas são
- Se o relacionamento for a dois, eu me comporto direitinho
- A noite inesquecível levou oito anos pra ocorrer, com uma paixão dos tempos de escola... valeu cada minuto da espera
- Mentira tem tolerância zero
- Eu acredito em Deus. Minha religião são meus amigos e minha família.
- Se eu confiar em você, eu vou até quebrar a cara ... é incondicional.
- Sou viciado em nomes que gosto: quem os tiver, já sai com bônus logo de cara
- Adoro Flávias, Fernandas e Letícias
- Leio blogs de escritores quase todos os dias
- Têm mais de 50 blogs no meu favoritos... rsss
- 95% Luke Skywalker e 5% Darth Vader
- Não recomendo o lado Darth Vader... rssss
- Gosto de ser gentil e educado... jeito de ser mesmo
- O nome da personagem do meu primeiro livro, aos 14, era Débora
- Débora era o nome da minha eXposa... rsss
- As duas eram muito bonitas e fisicamente parecidas
- Costumo ser um ótimo amigo e um namorado médio
- Eu tenho amigas demais para ser um bom namorado... rssss
- Minhas amigas costumam dizer que eu sou o melhor amigo quase gay delas
- Um eterno adolescente... mas sei ser responsável quando precisa
- Meus sonhos têm imagem e som mais perfeitos que cinema moderno
- Eu sempre me lembro deles
- Transar em sonho, pra mim, é como se tivesse ocorrido de verdade
- Sou imparcial para julgar qualquer coisa, mesmo que não seja a meu favor
- Eu não passo a mão na cabeça de ninguém, mas fico ao lado dos meus amigos para apoiá-los até o fim: eles são meus amigos, errados ou não
- Adoro olhos puxados
- Alguns dos poemas publicados aqui ou no Ménage são para blogueiras
- Sou eternamente grato a quem me ajuda
- Não sei viver sem escrever, há muitos anos
- Homens e mulheres cometem os mesmos erros, só que de formas diferentes às vezes: por isso vivem reclamando uns dos outros... rsss
- Adoro praticar esportes
- Gosto de paqueras e flertes, não importa o resultado: são momentos bons e que ficam gravados para sempre
- Todas grandes amigas ou namoradas dizem que eu sou muito bobo
- Então, eu devo ser
- Eu fui apaixonado pelas minhas melhores amigas, dos 15 aos 23 anos
- Eu nunca saí do lado delas por elas só quererem ser amigas
- Isso me deu a chance de viver ao lado das pessoas que mais amei na minha juventude e não me arrependo um segundo por isso
- Aprendi que gostar de alguém é uma sensação deliciosa, mesmo que não se tenha a desejada correspondência. Se tiver, é mais gostoso ainda...
- A vida deve ser vivida, pois o tempo que passou não voltará jamais
- Proporcionar prazer é algo indescritível
- Existem poucas sensações mais deliciosas do que ver uma mulher tendo prazer, olhando lá de baixo...
- Estou sempre de bom humor
- A pior traição vem de quem se confia cegamente: é um golpe mortal!
- Deixar rolar a vida é naturalmente mais fácil para se viver
- Falar besteira faz bem pra saúde
- Amor e paixão não são para se definir, são para se sentir: definições nesses casos só servem para atrapalhar e causar discussões idiotas
- Relações devem ser vividas com intensidade plena
- Mulheres não deviam temer passar dos 30: um homem que não sabe apreciar a beleza da mulher madura pode não valer muito a pena
- Cresci no meio de mulheres, daí o vício... rsss
- Adoro chocolate
- Passar uma tarde conversando, entrar pela noite namorando e adormecer abraçado pele a pele não tem preço
- Gosto de conversar... aliás, eu sou uma matraca
- Andar de mãos dadas é muito bom
- Quando não se beija mais na boca, é sinal que a relação provavelmente já acabou, mesmo que não se perceba isso
- Amo o mar e vento batendo no rosto
- Andar na praia ao final da tarde, com pés descalços e bem acompanhado, pode valer o dia
- Alguns poemas são retratos do que se passou; outros, do que se queria ter passado... rsss
- Prefiro enxergar as coisas boas da vida; das más, apenas tomar ciência para não ser negligente
- Filhas são amores eternos
- Verso de um poema antigo: a realeza não está na coroa, mas sim, na alma!
- Impossível para um poeta não se emocionar com cenas tocantes
- Eu canto mulheres o tempo todo
- Raramente passa disso... rsss
- Um poço de calmaria, mesmo no meio da tempestade
- Aquariano, típico
- Tenho sempre a sensação que o povo desse planeta é muito atrasado
- Sou ruim de cama: durmo de cinco a seis horas por noite, salvo dias de extremo cansaço
- Franqueza e sinceridade podem ser expressas de forma suave
- Melhor que transar ou fazer amor, só transar fazendo amor...
- Eu falo com olhos e atitudes
- Uma mulher que não souber entender isso, nunca vai descobrir o quanto foi amada

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Poema pra namorar

Estranho esse mundo
Que dá voltas e voltas
E gira sem parar
Que nos faz perder o rumo
O prumo
O prazer de gostar
Que turva a visão
Desliga a paixão
Que nos engana dizendo
Que não mais se ouve
O pulsar forte do coração

As vontades, os desejos
O brotar do teu sorriso
No reflexo de um ato
Um qualquer
Ato simples que trouxesse
Ao seu ser, um agradar

As palavras que formam
Versos e estrofes
Transformando em poesia
O seu viver
Só as palavras não bastam mais

É preciso cativar
Necessário conquistar
Conseguir no dia a dia
Reencontrar toda a magia
De fazer você sorrir
De tocar o coração
Te fazer sentir tesão
Uma vontade crescente
Certinha ou indecente
De um beijo num repente
Um abraço forte
Brilho no olhar
Dengo no falar
Paixão sem corte
Te deixar enamorada
Esperar no escurecer
Pelo brilho do luar
E ter fazer mulher amada
Pela noite madrugada
Até o dia amanhecer 19/08/2002

sábado, 3 de janeiro de 2009

Fototexto

Cabelo preso
Detalhe de brincos
em forma de ornato
Os lábios que formam
um princípio de sorrir
Um olhar de lado,
indireto
Fazendo espelho
aos textos,
aos poemas,
Do seu sentir,
do seu pensar,
Que entreleçados
se apresentam na tela do blog
Trazendo
ainda que em formas disformes,
um pouco de ti

Ah, pobres rapazes
Que por sua beleza particular
se quedam em encantos
Sem contudo enxergar,
por trás desse rosto,
a sua essência

Não tema jamais
menina moça
Que um dia lhe sobrem
pedaços de solidão

Em oceanos densos
Sempre se encontrarão olhos outros
Que enxerguem o prazer
em nadar de braçada
na linha infinita do seu horizonte 20/12/2008

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um nome

Olhos
Primeira via
Imagem na retina
E a magia
se faz presente a enfeitiçar

O feitiço em um nome,
Em uma foto desenhada,
Em um texto,
Criando contexto
Desenhando mundos
Na fértil imaginação

Como explicar
O súbito encanto
Após um mero olhar?

Talvez porque a mente
Nem sempre obediente
Se recusa a se regrar,
Fazendo assim caminho
Livre
Desimpedido
Pro coração atuar 24/12/2008