Como bem sabes, não se saboreia certos pratos em hora errada. E textos são pratos, com o perdão da ofensa aos puristas das letras, e mais que isso, são pratos deliciosos. Tudo bem que vez ou outra o sabor é insosso o suficiente para se optar pela fome, mas fiquemos com o lado bom da porcentagem e apreciemos os bons textos nas horas em que seja realmente a sua hora de ser lido.
A vida continua corrida por aqui e o cotidiano tem 12 horas obrigatórias a serem cumpridas, sob a pena de não se fazer o que pede o crachá acima e os que estão acima dele. Não será para sempre, mas o horizonte foi pintado na mente e agora eu o desejo bastante nas telas da realidade. Há muito o que se fazer e mais de ano e meio já se passou nessa empreitada onde se navega em mar sempre revolto, com mínimos de calmaria vez ou outra a esperar pela nova tormenta ou fazer de ondas.
São poucos minutos além das oito e a matina já vai tomando ares de manhã. A ausência de ontem na banca se fazia necessária, é preciso estar junto aos seus em datas festivas, ainda mais quando a data é de alguém que, mesmo sendo dos seus, volta e meia é visto pela berlinda. Não importava tanto o cansaço dos olhos, valia um sorriso na dona da festa e isso ainda não tem preço nem código de barras.
Mais um pouco além das oito, mas já lá se vão uns bons quinze minutos de quando comecei a leitura de Lutier, ao menos do pedacinho que me enviaste. Confesso, o Estácio me é ignoto. Não de nome, que aí seria alienação, mas de vista e presença. Não importa muito isso agora, nem mesmo o casarão que está lá. Importa mesmo é o outono e suas folhas. Deveria ser matéria obrigatória nas escolas e fazer parte da lei: todo mundo deveria, ao menos uma vez na vida, pronunciar alguma sentença onde tivéssemos a presença de "folhas de outono", porque existem poucas coisas na face desse Planeta que sejam mais bonitas que folhas de outono e toda a magia que as envolve.
Não importa muito qual seja o tom da cor, que seja sua queda ou a colcha que desenham ao cair no chão, entre gramas, calçadas e guias, após um inigualável vôo de leveza pelo ar de outono, ainda que essa leveza se mostre em rajadas e ventanias tais.
Olhares perdidos no infinito, foto em preto e branco e folhas no jardim da praça ou das casas. Nada disso teria muito valor se não fosse o outono, não teria charme nem sabor. Seriam, apenas, meros escritos insossos.
Ao te ler, fico imaginando o outono no Estácio. Quem sabe um dia? O inverno vem se chegando, talvez agora só numa próxima estação, pois esse trem já passou. Mas nem só de imagens vive a retina e é possível desenhá-lo na mente através de um bom par de letras. E enquanto houver penas, a sua inclusa, é claro, o Estácio estará logo ali, a uma grafia de distância.