domingo, 25 de janeiro de 2009

Chuva

Este conto foi escrito pouco após o lançamento do livro de contos e crônicas, Flagra, em 2003. Como o seu tamanho não é muito pequeno, resolvi dividi-lo em partes, para a leitura não ficar muito pesada, sendo a primeira postagem hoje, a outra na quarta e o final para sábado, provavelmente. Espero que gostem ...

Monday

1ª Parte

- Naquela mesa ali. Discretamente.
O garçom atendeu seu pedido e levou o “bilhete” até a mesa indicada. Laura e Ana conversavam prazerosamente, sem se preocuparem muito com o tempo que passava e, com ele, a comida que esfriava. Na realidade, mal tinham provado o conteúdo de seus pratos.
Ele chegou discretamente, como lhe solicitara o remetente, e entregou o bilhete a Laura. Ana olhou para o garçom, para o bilhete e, finalmente, para a amiga. A curiosidade transbordava por seus olhos pequenos. Laura ficou parada por instantes, sem saber se aceitava ou não o guardanapo de pano que virara pergaminho.
- Eu já vi torpedo em barzinho, mas isto é totalmente inusitado pra mim! – rindo levemente.
- E o que diz aí? – replicou Ana, quase que levantando da sua cadeira para poder ver de perto o que estava grafado no pedaço de pano.
- Posso saber quem foi o autor da brincadeira?
O garçom se esquivou, dizendo apenas que lhe pediram para entregar, discretamente. Sem que revelasse o autor.
- E que tal se eu chamasse o gerente da casa e dissesse a ele que o seu funcionário está perturbando o meu almoço e o de minha amiga, com uma brincadeira de extremo mau gosto? – ameaçou.
- Se a senhora deseja, posso chamar o gerente.
Laura franziu a testa, um pouco desapontada. Ameaças daquele tipo sempre davam certo, mas desta vez falhara.
- E o meu admirador secreto não pretende se revelar?
- Ele apenas me pediu para lhe entregar o “bilhete”. – contendo o riso.
Laura percebeu que não conseguiria muito com o rapaz e que, no fundo, ele estava apenas acatando um pedido de outro cliente. Não achou justo destilar seu desapontamento em cima de alguém que provavelmente não estava nem um pouco confortável fazendo o que fazia.
- Típico de homens. Ou vêm com tudo, ou se escondem. Odeio isso!
- Vai ler ou não vai? – cortou Ana, totalmente inquieta.
- Não sei ... – enquanto segurava o guardanapo pela ponta, olhando com cara de desprezo.
- Não me mate de curiosidade, sua bandida! Leia logo o que está escrito!
Laura continuava a olhar para aquilo, seguro pela ponta, pendente, quase caindo. Por fim, terminou se rendendo a sua própria curiosidade e ajeitou-o em cima da mesa. Aproximou o rosto para tentar decifrar o pouco que a tinta havia conseguido grafar, em formas totalmente garranchadas, naquele pedaço de pano. Voltou-se de repente para trás.
- O que foi? – perguntou Ana, assustada.
Laura permaneceu em silêncio, olhar fixo em direção à mesa.
- O que é que você leu, criatura? – insistiu a amiga.
Nenhum movimento.
- Fala logo alguma coisa que eu já não agüento mais esse suspense todo, mulher de Deus! – em tom alto, chamando a atenção das mesas ao lado.
Ana percebeu a gafe e se retraiu, sem jeito. Laura levou o pano até perto do rosto, fechou os olhos, aspirou levemente o ar e sorriu suavemente, com uma expressão gostosa no rosto.
- Saint Laurent!
- Quem? – arguiu Ana.
- Só poderia ser ele.
- Ele quem? – suplicou Ana, já desesperada por não saber do que se tratava.
- Ele sabia que eu iria reconhecer o perfume. Por isso não escreveu nada legível. Que bandido!
- Não, chega! Vamos parar com isso! Alguém aí coloque as legendas que eu estou boiando há tempos. Nem que seja por piedade dessa alma curiosa, mas diga, pelo amor de Deus, do que você está falando, Laura?
Laura olhou para Ana com desdém. Levantou-se, virou-se para o garçom, que ali permanecera, pediu para que lhe indicasse onde estava. O rapaz pediu para que a acompanhasse até o outro salão.
- Você não vai fazer isso comigo, Laura! Pode até me abandonar sozinha na mesa, mas não me contar quem foi que te mandou o ... , o ... , isso daí que tá na sua mão, ah, isso é muita sujeira!
- Ana, sossega e come, antes que esfrie.
- Laura!
Era tarde. Ela seguiu atrás do rapaz, deixando a companheira com cara de tacho no meio do salão. Ana olhou para todos a sua volta, que a observavam, sem exceção, sentou-se lentamente, arrumou sua cadeira e se encolheu o mais que pode, querendo se esconder dentro de si mesma. Um garçom aproximou-se:
- Bebida?
- Whisky, duplo, cowboy! E rápido.

- - -

Ele estava sentado em uma mesa para duas pessoas, junto à janela, encostado na parede. Pernas cruzadas, os cabelos desgrenhados, como sempre, jogados para trás, testa limpa, o olhar profundo e denso, os lábios grossos, levemente puxados num esboço de sorriso. Camisa de manga longa, abotoada até pouco abaixo do pescoço, barba feita, impecável como sempre. Só poderia ser ele:
- Carlo!
Ele levantou e abaixou rapidamente as sobrancelhas, intensificou o sorriso, mas permaneceu sentado.
- Olá, Laura.

continua no primeiro minuto da próxima quarta, dia 28/01

26 comentários:

Letícia Alves disse...

Muito legal, até aqui!
Aguardando os próximos acontecimentos!
Beijos Tempestuosos!

Branca disse...

A curiosidade feminina chega a ser engraçada rs...

Aguardando a 2ª parte...

Bom restinho de domingo pra vc,
bjo carinhoso.

Anônimo disse...

Se ele tiver o queixo másculo, quadrado, um perfume arrebatador...
Bom, vou rever as minhas revistinhas de praia! :)

Eu volto!!! :))

Beijinhos

Sueli Maia (Mai) disse...

...esse negócio de perfume é uma praga!
A memória olfativa deveria ter um capítulo a parte.
Meu whisky é com quatro pedras de gelo e meia...mas pode ser Buchanans ou black 12.
Um bom CK one ou Polo e vamos conversar...
See you on Wednesday...
be continued...

Ah!
visitei e gostei da loucura da 'castanha pinada'
Não sabia que existia doidice gemelar...

Também ressalto teu comentário lá sobre o pitbull e seus complexos...
assino sem qualquer ressalva.
Beijos.

Letícia disse...

Eu li e como você disse que vem a continuação, vou ler tudo de novo porque eu leio poemas, mas gosto mesmo é de narrativas bem cotidiano e coisa que vivemos.

E é sempre o perfume que denuncia.

PS. E pensei melhor. Vou usar roupa de astronauta. Aí quero ver. =)

Bjs, Fla.

Camila C. disse...

Uau hein! Q mistério!
Estou como a Ana aqui!Curiosíssima!!!

Aguardo a próxima parte! E obrigada pela visita! Postarei a continuação assim que puder!

até+!

Van disse...

Vim só agradecer o comentário delicioso que vc deixou no VAN FILOSOFIA!
Adorei, moço.
Mil beijucas pra ti.

Sunflower disse...

então, me explica melhor esse lance de fazer um crítica...

beijas

Escrevendo na Pele disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Monday disse...

Moças e moços, em geral, não há muito que responder pra vocês, está apenas no começo da história ...

mas ao menos deu pra criar um suspensezinho, não?

Monday disse...

Van

fazia um tempinho que não passava, aproveitei que sábado acordei cedo e pus a listinha de visitas em dia ...

Monday disse...

Sunny girl

não é nada demais, apenas acho que suas críticas são bem feitas nos seus posts, por isso perguntei se gostaria de ler e emitir uma opinião, só isso ... rsss

Unknown disse...

Ow Mon...
Eu juro como já pensei em filmar so pra vcs verem como não é minha mentira... mas infelizmente minha camera so grava video!!
=D
bjus amigo!

Juliana disse...

AAAAAAAAHHH continua nos proximos capitulos!
ADORO misterios perfumados
ja estou curiosa

Van disse...

Uia!
Morangooooooooooooos!!!!
Ponto fraco. Humpf!
Só de pensar.... afff....
Deixa pra lá, néam?
Então? Tá calor aí?
Pois é né?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Beijucas baby.

Camila disse...

gosteei muito essa partee!!


bejoos

Lorena disse...

Eita, fiquei curiosa... espero pelo próximo capítulo!

E eu sou péssima para decifrar perfumes aleatórios, mas o perfume que marca a pessoa eu não esqueço nunca. Posso nunca mais lembrar o nome, mas toda vez que sentir o cheiro vou receber aquela enxurrada de sentimentos típicos da lembrança vívida.

E eu sou uma praga de curiosa, se estivesse no lugar da Ana teria ficado com muita raiva também!

beijos e obrigada pela visita lá no blog. =)

Fernanda disse...

tô adorando a historia...
tenho certeza que ela é encantadora.
mais uma vez obrigada pela visita em meus versos
e nessa tua historia,podia haver uma personagem chamada fernanda né?

Monday disse...

Sonia

Bem vinda ao blog ... quanto à reflexão, é como eu costumo dizer: faz parte ...

Ju

calma, quarta-feira vem chegando ...

Des

eu não duvido, eu só não queria perder uma cena que fosse ... rsss

Van

não deu pra resistir ... rssss

Camilinha

bom, tomara que o seu gosto não mude ... rsss

Lori

eu aprendi há alguns anos que um bom perfume pode espelhar muitas outras coisas boas também ...

Fe

a única Fernanda que eu retratei em algum texto foi minha irmã ...

gabrielle disse...

o conto mal começou mas já me prendeu...

voltarei!

bj

Anônimo disse...

Ai, seu-prosador-de-uma-figa-e-poeta!
Vá (esfregando as mãos querendo ler o resto), cadê?

rs...
Morango é pracabá meeeeesmo.

Meu beijo pra vc, querido.

Van disse...

Ah, se você olhasse......
Ah, se olhasse......

Fátima disse...

ah... que delicia o conto... aguardando o restante... mas só o fato de ter reencontro já faz surgir um friozinho na barriga...

menina fê disse...

putz, o perfume é mesmo uma marca registrada... o cheiro passa e traz com ele as lembranças!


rsrs


o "olá, laura" deu um friozinho na barriga!


bjão da fê =D

Monday disse...

Gab

bom, e ele acaba de continuar ... rsss

Patch

meu amorzinho, fazer um pouco de maldade também é necessário as vezes ... eu pensei em postar tudo de uma vez, mas achei que era cansativo pra ler na tela ... então, vou judiar das minhas curiosas de plantão... mas com muito amor ... rsss

VAn

se olhar mais, eu vou acabar ficando vesgo ... rssss

Charlote

eu não li seu último post ontem, o sono venceu depois da meia noite ... volto lá daqui a pouco

Fe

você ouviu um "Olá, Fe!" ?????? Ah, esse Marcelo manda bem, mesmo ...

suavesencantos disse...

Perfumes em geral são marcantes msemo,tô indo ler a continuação,

bjs.